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A filmografia de Pedro Tofani


Uma filmografia é um registro de todas as obras produzidas por um diretor, roteirista, produtor ou qualquer outro profissional ligado à produção cinematográfica. No caso do cantor Jão, os videoclipes e trailers de sua carreira são predominantemente dirigidos e roteirizados por Pedro Augusto Tofani Fernandes Palhares, também responsável pela direção criativa de seus shows, como o icônico palco da Superturnê. Reconhecer o trabalho dos artistas por trás do fenômeno Jão e sua identidade visual é essencial. Neste post, vamos explorar os detalhes visuais de alguns clipes dirigidos e/ou roteirizados por Pedro Tofani, o talento responsável pelos visuais na carreira de Jão, apreciando a fotografia e também analisando um pouco mais a fundo a simbologia presente nos clipes e trailers desde o início de sua carreira até a era Anti-Herói.



Álcool (2017)

A narrativa do clipe "Álcool" utiliza elementos para transmitir os sentimentos internos do protagonista, e possui direção criativa e roteiro por Pedro Tofani. O contraste entre cores frias e quentes reflete a dualidade das emoções do protagonista, enquanto ele busca no álcool uma fuga da solidão mas sente-se ainda menor quando o faz. A transição das cores frias para quentes acompanha sua busca por conforto e euforia, contrastando com sua angústia interior em se sentir assim. O uso de sombras, que ocultam o rosto de Jão, evidenciam seu conflito interno e a progressiva escuridão do ambiente intensifica-se, deixando-o quase oculto por completo, o que simboliza como, nessa situação, ele se perde cada vez mais. As chamas simbolizam sua autodestruição, enquanto a cena da garrafa em chamas em modo reverso demonstra uma tentativa de redenção, de sair dessa condição de tentar buscar um refúgio no álcool. O retorno às cores frias no final, enquanto ele deixa o bar frustrado, indica sua volta à realidade e aceitação das consequências de seus atos, entrando em uma realidade sóbria em que precisa lidar com os seus sentimentos.


Ressaca (2017)

O clipe "Ressaca", dirigido e roteirizado por Pedro Tofani, segue a narrativa de "Álcool", mantendo as cores frias para refletir a continuidade. A jornada do protagonista revela sua luta entre a euforia e a ressaca emocional. A continuidade entre as duas narrativas já é perceptível no título, em que a ressaca é uma consequência direta do álcool. Ele é visto flutuando no mar, representando um estado de inércia. A cena percorrendo as ruas com uma garrafa de refrigerante sugere uma tentativa de abandonar o álcool. A busca por pertencimento após desprender-se do álcool é enfatizada quando ele entra no mar em um dia cinza, com a música de fundo questionando seu lugar. A repetição dos eventos, como correr em direção ao mar, sugere uma busca constante por se encontrar. O final melancólico, com o protagonista chegando ao mar mais uma vez, evidencia essa tentativa constante da busca por redenção.



Lobos (2018)

O trailer de "Lobos" inaugura uma série de trailers cinematográficos para os álbuns de Jão, uma prática não tão comum na indústria musical. Com um minuto de duração, apresenta imagens como a lua cheia, um lobo uivando e a transformação de Jão durante o fenômeno, introduzindo a temática que permeia todo o álbum. A narrativa envolvente nos transporta para a atmosfera do primeiro álbum de Jão, centrado no elemento terra, que é amplamente utilizado nessa obra visual.



Vou morrer sozinho (2018)

O clipe de "Vou Morrer Sozinho", dirigido e roteirizado por Jão e Pedro Tofani, é um dos únicos clipes da carreira que também conta com a participação do cantor no roteiro e direção. A obra mergulha na angústia do protagonista, expressando seu medo de morrer sem encontrar um amor verdadeiro. A narrativa visual utiliza o simbolismo cinematográfico para transmitir essa mensagem de uma forma literal: oprotagonista é levado a uma experiência quase morte, representada pelo ambiente de hospital e cemitério, onde confronta sua solidão e frustrações amorosas. A figura da atendente da conveniência de "Álcool" consolando o protagonista sugere uma continuidade entre as narrativas, enquanto as lápides dos personagens revelam suas histórias de desilusão amorosa. A busca por vingança contra casais felizes simboliza a raiva do protagonista em não ter um amor para si. No entanto, o momento crucial ocorre quando ele é "ressuscitado" no hospital, revelando uma reviravolta na narrativa, que simboliza a possibilidade de encontrar redenção e um novo começo, mesmo após enfrentar os seus medos mais profundos.



Me beija com raiva (2018)

O clipe "Me beija com raiva", dirigido por Pedro Tofani e Jão, conta uma história de amor e desilusão apresentada em ordem reversa. Começa com o protagonista testemunhando seu namorado beijando outra pessoa e culminando em uma briga entre eles. As cores azul e vermelho são proeminentes, simbolizando a dualidade entre raiva e amor. Além da briga entre o casal, a mulher também confronta Jão, sugerindo possíveis falhas de ambas as partes. Após a briga, o protagonista tenta encontrar consolo em uma festa, mas sua angústia persiste. O clipe termina com Jão fumando um cigarro e pegando a estrada, representando sua determinação em seguir em frente e deixar as mágoas para trás. A ordem reversa do clipe adiciona uma camada de complexidade ao enredo, desafiando o espectador a reconstruir a narrativa de trás para frente. Ao iniciar pelo final e retroceder até o início, transmite-se um sentimento de desejo intenso de voltar ao passado, como se existisse uma espécie de anseio por uma segunda chance ou por uma realidade alternativa na qual os eventos dolorosos não ocorressem.



Enquanto me beija (2019)

O clipe "Enquanto me beija", da era Anti-Herói, é uma obra simples, mas carregada de intensidade emocional. Gravado em um único plano, sem cortes, ele conta uma narrativa envolvente. Começa com Jão ao piano, no topo de uma montanha, simbolizando uma conexão com seus sentimentos representada pela música. Um homem o empurra, representando seus conflitos internos em relação ao amor. Outros personagens entram, simbolizando suas inseguranças. Apesar dos empurrões, Jão tenta resistir, mas acaba superado pelos sentimentos. Ele corre atrás dos outros, tentando assumir o controle e protagonismo de sua própria vida, mas é manipulado como um boneco — uma possível representação de como ele se sente no amor —. Finalmente, ele desiste de lutar, rendendo-se. Os personagens então o deixam ali, perdido, mostrando como o amor o machucou e partiu.


Essa eu fiz pro nosso amor (2019)

O clipe da música "Essa eu fiz pro nosso amor" se conecta em partes com a narrativa de "Enquanto me beija", provavelmente de forma não intencional inicialmente. Apresentando gravações em câmera analógica, o vídeo é simples, porém profundamente carregado de emoção, assim como o anterior. Dirigida por Pedro Tofani, a obra audiovisual consiste em registros de uma viagem a dois, sob a perspectiva do diretor sob seu atual namorado, Jão. No entanto, conforme Jão revelou sobre a música, a vida aconteceu e mudou o rumo da canção e, consequentemente, do clipe, que inicialmente retratavam apenas uma história de amor entre duas pessoas. Com o desenrolar dos acontecimentos pessoais que influenciaram a música, a composição e o clipe assumiram uma reviravolta, transformando-se em um registro de despedida. Os vídeos capturados são delicados e íntimos, refletindo a singularidade do olhar do diretor sobre a experiência vivida. É um daqueles filmes que não poderia ter sido criado por outro diretor se não o seu, pois conta uma história a partir de seu olhar específico sobre algo ou alguém. Essa reviravolta é demonstrada no clipe através de imagens em modo reverso e acelerado, evocando uma sensação de memória que já não mais pertence aos protagonistas. O cenário de "Enquanto me beija" aparece no final da obra, possivelmente simbolizando os sentimentos que levaram a essa mudança na narrativa da canção e do clipe. Em meio aos diversos takes, destaca-se um momento em que Jão sussurra "eu te amo", revelando que o amor ainda existe, mesmo no fim marcado na obra. O clipe se encerra com um take dos bastidores do clipe anterior, deixando o clipe em aberto, tal como a história narrada na música.



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