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Super: Um ano do trailer que deu início à era - Os bastidores criativos


A carreira musical de Jão é marcada por uma identidade visual única, desenvolvida ao longo dos anos. Entre suas produções, os trailers se destacam como uma de suas marcas registradas. Esses vídeos curtos, com duração de um a três minutos, introduzem cada nova era musical de forma singular. De seus quatro álbuns lançados, três têm trailers: Lobos, seu álbum de estreia; Pirata, o terceiro; e Super, o quarto. Hoje, 10 de agosto, celebramos o primeiro aniversário do trailer de Super. Em homenagem a essa data, reunimos uma seleção de curiosidades, análises detalhadas e bastidores do trailer de Super. 


Vídeo: Jão, em entrevista com Foquinha, falando um pouco sobre as faixas Super, Monstros, e o trailer do álbum.


Para discutir essa obra, contamos com a colaboração de dois convidados especiais: Pedro Azevedo (predoazevedo no Instagram) e Lavínia (balavinia no Instagram), diretores de arte do trailer. Juntos, eles nos levam aos bastidores do processo criativo, compartilhando como construíram o visual de um dos trailers mais marcantes da carreira de Jão.


O conceito da casa: um espaço de memórias 


Frame de Super e a casa em processo de montagem. Foto: Acervo pessoal Pedro Azevedo.


Como elemento central do trailer, a casa se destaca como um lugar carregado de nostalgia para Jão, repleto de memórias significativas. O conceito surgiu dos diretores criativos Pedro Tófani e Malu Alves, que apresentaram a ideia aos diretores de arte com um briefing detalhado sobre a intenção artística e visual do trailer. Pedro Azevedo explica que a casa simboliza “um espaço de memória, onde Jão, ainda jovem, sonhava em se tornar um pop star. Anos depois, ele retorna a esse espaço, agora marcado pelo tempo e decadente, mas ainda carregado de elementos que foram fundamentais para sua formação pessoal e artística.”


Lavínia complementa que “a casa tinha que ser confortável, nostálgica e ter uma temporalidade de dois tempos [...] Sendo ali, então, um lugar que viveu na infância e agora revisita o espaço, mais velho.” Ela também observa que o processo começou com um desenho, passou para o projeto e só então foi para a cenotécnica, que determinaria os melhores materiais capazes de suportar o fogo.


O diretor de arte destaca que assumir o projeto do trailer foi uma experiência muito especial, especialmente porque já acompanhava o trabalho de Jão e assistiu ao seu primeiro show no Rio de Janeiro, em 2018. O projeto também foi desafiador, pois exigiu uma pesquisa extensa sobre referências conceituais e texturas, principalmente porque seria gravado em película – um tipo de filme fotográfico antigo que captura imagens de uma maneira mais rica e com uma textura única, diferente das gravações digitais. A intenção era não só atender às expectativas de Jão e sua equipe, mas também corresponder à dimensão do projeto. Lavínia relembra que realizou uma pesquisa detalhada para trazer à tona elementos que representassem a trajetória do artista, mas com uma nova narrativa, adequada para o lançamento do novo álbum


Escolha dos Elementos na Casa


Objetos sendo posicionados na cenografia pela equipe de arte. Foto: Acervo pessoal Lavínia.


Para o trailer de Super, a escolha dos itens na casa foi um processo cuidadosamente planejado. Pedro Azevedo explica que alguns objetos usados na cena eram do próprio acervo pessoal de Jão, trazendo uma conexão real com sua história. No entanto, muitos itens foram comprados especificamente para o trailer, especialmente aqueles que seriam queimados. Lavínia comenta que a equipe fez uma pesquisa detalhada para escolher cada objeto, garantindo que eles combinassem com a estética e a história que queriam contar. Cada detalhe foi pensado para criar um ambiente que fosse nostálgico e marcante para o público.


Observando os detalhes da casa, vemos como a escolha dos objetos foi minuciosa, criando uma atmosfera pessoal do cantor e inserindo "easter eggs" – referências ocultas ou detalhes sutis que se relacionam com o álbum que estava por vir. Em um frame específico (segundo 00:57), podemos ver um pôster do filme Catch Me If You Can (2002), dirigido por Steven Spielberg e protagonizado por Leonardo DiCaprio, na parede. Até então, Jão nunca havia mencionado esse filme. No entanto, na canção "Locadora", lançada alguns dias depois, no álbum Super, o filme é citado: “Beijando ao som do videocassete/Dicaprio impressionado, olhando a gente/O tempo era longo e diferente/Baby, catch me if you can”. Mais tarde, em seu Letterboxd – uma plataforma social onde usuários compartilham e recomendam filmes – o artista selecionou Catch Me If You Can como um de seus quatro filmes favoritos.


Fotos: Frames do trailer que destacam os pôsteres de Catch Me If You Can e da cidade de São Paulo.


Além disso, há um pôster da cidade de São Paulo, uma referência direta à cidade que Jão considera sua grande musa e que, inclusive, ganharia uma faixa com seu nome no álbum: "São Paulo, 2015". A cidade também é mencionada em outras canções ao longo de sua discografia. O pôster de Blade Runner (1982), dirigido por Ridley Scott, também aparece na parede.



Vídeo: Jão no Podpah, falando sobre a cidade de São Paulo, que aparece em pôster no trailer de Super.


O fogo na narrativa


Fotos: Frames do trailer de Super, com objetos simbólicos em chamas.


Um detalhe que intensifica a nostalgia na narrativa são os elementos queimados em close, uma verdadeira viagem pelas eras de Jão. Um lobo, simbolizando o álbum Lobos; um barco, representando Pirata; e uma janela, que faz referência a Anti-Herói, associado ao elemento ar. O próprio fogo, que consome esses objetos, simboliza a era Super, uma manifestação do desejo de Jão de incendiar, em suas próprias palavras, indicando que esse era o momento certo.


Foto: Trecho da carta de Super.


O fogo desempenha um papel crucial na narrativa, funcionando como um símbolo de transformação, intensidade e fechamento de ciclos. Mais do que simples destruição, a utilização do fogo explora uma metáfora profunda, representando a evolução das eras musicais anteriores de Jão. Incendiar a casa, cenário central do trailer, reflete uma transição significativa no artístico e pessoal do cantor.


Foto: Frame do trailer com a casa em chamas.


A criação da cena do fogo foi cuidadosamente planejada para garantir um impacto visual impressionante que, ainda assim, fosse seguro de ser gravado. Sob a direção de Pedro Tófani e com o suporte de uma equipe especializada em efeitos especiais, a casa foi projetada para permitir uma queima controlada, com o fogo iniciando de forma gradual e atingindo a queima completa da casa, o que garantiu a segurança no set.


O Processo de Criação do Trailer da Era Super


Diretores de arte no set e a casa em processo de filmagem. Fotos: Acervo pessoal Lavínia.


Pedro e Lavínia destacam que, no set, tudo é colaborativo. A direção de arte trabalhou em sintonia com os diretores criativos Pedro Tófani e Malu Alves, enquanto o feedback de Jão ajudou a moldar o projeto. O contato com o artista é feito por meio da direção criativa.

Pedro Azevedo lembra que o momento mais importante foi quando a cenografia da casa foi finalmente aprovada. Isso deu a ele uma visão clara sobre como transformar as referências em realidade. Lavínia, por sua vez, afirma que acompanhar a montagem e a produção cuidadosa dos objetos foi decisivo para o resultado final.


A parceria entre Pedro e Lavínia também foi um ponto forte na arte do projeto. Eles se conheceram e se tornaram amigos no trabalho, e essa amizade ajudou a tornar a colaboração ainda mais eficiente. Pedro aprecia a ajuda mútua e a admiração que têm um pelo outro, e Lavínia vê na amizade com Pedro um apoio importante para o sucesso do projeto.


No fim das contas, a combinação de uma colaboração ativa com Jão e a UFO, a forte parceria entre Pedro e Lavínia, e a visão criativa de Pedro Tófani e Malu Alves, foi fundamental para criar um trailer que capturasse perfeitamente o espírito da era Super.


Quem é o diretor de arte no set?


Pôster de Blade Runner capturado sobre a cama, durante a montagem da cenografia, e depois posicionado na parede, na obra final. Fotos: Acervo pessoal Lavínia.


Quando você assiste a uma obra visual — como o trailer de Super — e se encanta com o cenário e os detalhes, provavelmente o trabalho do diretor de arte está por trás dessa mágica. No set, o diretor de arte é quem transforma o conceito visual em realidade, cuidando de tudo que você vê nas cenas – desde a escolha dos objetos e a decoração dos ambientes até a criação da atmosfera que dá vida à história.


Set de filmagem do trailer Super pelo ponto de vista da direção fotográfica. Foto: @victor.cine no Instagram.


Além do diretor de arte, o set conta com uma equipe diversificada, incluindo diretores criativos, assistentes de direção e diretores de fotografia, cada um desempenhando um papel fundamental na criação do projeto. E claro, há muitos outros profissionais especializados que contribuem para cada detalhe, garantindo que tudo esteja perfeito e em sintonia. 


Se você está pensando em entrar no mundo da direção de arte, ou em qualquer outro campo do audiovisual, as dicas de Lavínia e Pedro podem ser um bom começo. Lavínia sugere que você consuma muitos filmes e estude como são feitos, procure conteúdos de making-of e se informe sobre os diferentes departamentos da arte. "É um setor grande e sempre aberto a novas pessoas, então busque conhecimento e se envolva", diz ela.


Pedro destaca que, além de estudar muito, é importante ser versátil e entender que o trabalho em arte é sempre coletivo. "Não se começa diretamente na direção de arte. É essencial passar por diferentes funções para aprender e conseguir gerir melhor a equipe. E lembre-se: o trabalho em arte é feito por muitas mãos", explica. Ele recomenda participar de festivais, assistir a palestras e experimentar novas técnicas para crescer na área.


Diretores criativos e equipe fotográfica nos bastidores. Fotos: @marialuisalves e @victor.cine no Instagram.


Mesmo sendo um artista musical, Jão é uma grande inspiração para fãs que têm alguma inclinação para o mundo audiovisual; isso porque sua trajetória é marcada pela experiência cinematográfica e pela colaboração com profissionais incríveis, como Pedro e Lavínia. Além disso, o trabalho dedicado — frequentemente liderado por Pedro Tófani e Malu Alves — tem o poder de despertar a paixão pela arte nas pessoas que já têm esse interesse, da mesma forma que Jão serve como uma grande inspiração para aqueles que sonham em ser cantores e/ou compositores. A valorização da arte na carreira de Jão é ampla e vai muito além da música, o que demonstra uma grande responsabilidade como artista e inspira positivamente aqueles que o acompanham a seguir seus instintos criativos.


Com elementos visuais marcantes, referências às diferentes eras e diversos easter eggs, os trailers de Jão são marcantes na introdução de suas eras. Cada detalhe é meticulosamente pensado em conjunto e, nos bastidores, o trabalho de cada membro da equipe é essencial para garantir que o resultado final corresponda à visão criativa.


Agradecemos a Pedro e Lavínia por este bate-papo sobre o processo criativo do trailer de Super. Foi incrível descobrir tanto sobre esse universo e explorar os bastidores dessa produção, compreendendo o trabalho que dá vida a vídeos que marcam as nossas vidas como fãs e espectadores.


Além de Pedro e Lavínia, é essencial reconhecer a contribuição de todos os profissionais envolvidos, desde os diretores criativos até os técnicos de efeitos especiais. Cada um desempenhou um papel crucial para que Super se tornasse uma obra audiovisual icônica, marcando uma fase especial na carreira do nosso artista favorito. O trailer nos proporcionou uma experiência completa de emoções: choramos, nos emocionamos, sorrimos e revisitamos a trajetória de Jão, mergulhando de cabeça em tudo o que seria a era Super, que marcou a estreia de Jão nos palcos de grandes estádios.


Jão na Superturnê, que assim como o trailer, conta com o dragão e o fogo como elementos marcantes. Fotos: Iris Alves (1 e 3) e Jão Stage (2).

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